Nem mesmo a deficiência congênita dos membros inferiores é capaz de
tirar o brilho dos olhos de Maurício Morais. O jiu-jitsu foi o único
esporte que o atleta de 19 anos conseguiu se adaptar. Há dois anos, ele é
exemplo de superação e dedicação.
As dificuldades do dia a dia não são barreiras para o jovem guerreiro.
De casa para academia são aproximadamente três quilômetros. A distância é
percorrida em cima de uma cadeira de rodas.
O jovem atleta teve que se especializar em alguns golpes (Foto: Alberto Rolla)
- Antes eu vinha de ônibus, mas muitos não têm elevador. Às vezes, o
próprio motorista não quer parar para o deficiente. Então, resolvi
utilizar a cadeira. Saio de casa uma hora e meia antes do treino
começar. Ainda dá tempo de descansar e conversar com os amigos -
explicou.
Maurício Morais é o único atleta de Roraima com deficiência que treina
jiu-jitsu. Ele afirma que desde que começou na modalidade, as diferenças
ficaram de lado.
- Não sinto preconceito. Muitos me parabenizam, aplaudem e incentivam.
Até atletas de outras academias também me apoiam e torcem por mim -
frisou o atleta, que é faixa azul de jiu-jitsu.
Início
O atleta começou a treinar jiu-jitsu na Vila Olímpica. Na primeira
competição ficou com a medalha de ouro porque não tinha nenhum
concorrente em sua categoria. No final, recebeu um convite do professor
Daniel Trindade para integrar a equipe da Associação Trindade de
Jiu-Jitsu.
Maurício Morais (primeiro da direito abaixado) é exemplo de superação no jiu-jitsu (Foto: Alberto Rolla)
- Fiquei feliz e aceitei o convite. Sabia que na academia tinha bons
atletas. Foi aí que conheci o mestre Gordinho. Treino porque eu gosto -
afirmou Maurício, que pretende chegar até a faixa preta.
Quase desistiu
A falta de patrocínio quase o fez desistir do jiu-jitsu. Maurício
lembra que em três oportunidades perdeu a chance de competir em Manaus. A
força para continuar nos tatames vem dos amigos e professores.
- Três vezes paguei as inscrições dos torneios, mas na última hora os
empresários me deixaram na mão. Conheço muitos atletas que já desistiram
de treinar por falta de patrocínio -
Família
Em casa, o jovem atleta tem apoio somente do pai, Cícero Ferreira.
Maurício confessou que sua mãe não gosta que ele treine e nem assiste
aos seus combates.
- A minha mãe tem medo de que eu me machuque. Ela não vê as minhas
lutas. O incentivo é do meu pai - disse o atleta, que dos três filhos
somente ele pratica jiu-jitsu.
Por causa da deficiência, Maurício Morais criou um
(Foto: Alberto Rolla)
Novo golpe
Maurício sempre treinou com 'pessoas normais'. Ele explica que no
treinamento teve que se especializar em alguns golpes como
estrangulamento, mata leão, americana e estrangulamento com lapela. O
atleta até inventou um golpe.
- Devido a minha deficência, tive que me especializar em alguns golpes.
Treinando com um amigo, até inventei um. Sempre que o meu adversário
vacila eu aplico o novo golpe, que ainda não dei um nome -
Orgulho da academia
Para o faixa preta Gordinho, o atleta é um exemplo para todos os alunos
e para o próprio professor. Maurício abre os treinamentos, orienta os
novatos e até dá aulas.
- É um incentivo tanto para mim quanto para os alunos. Ele está
vencendo na vida. É o orgulho da nossa academia. Tem muita gente sem
deficiência que não faz o que ele faz. É um milagre -
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