sábado, 25 de janeiro de 2014

Dribles em cães de dia e defensora à noite, rotina de uma carteira-jogadora Neste sábado é comemorado o Dia do Carteiro. Em RR há uma carteira dividida entre a entrega de correspondências e futebol em um clube que está na Copa do Brasil

Por Boa Vista, Roraima

Elisângela se prepara para a entrega de correspondências (Foto: Bruno Willemon/GloboEsporte.com)Elisângela se prepara para a entrega de correspondências (Foto: Bruno Willemon/GloboEsporte.com)

Dribles durante o dia em cães ferozes e à noite o inverso: muralha para conter dribles de craques do meio de campo e ataque. Esta é a rotina de Elisângela Gomes da Costa, 30, de Boa Vista (RR), que divide diariamente o trabalho como carteira e o prazer em jogar futebol como 'profissional', ainda que não seja remunerada para jogar bola.
Carteira começa o 'primeiro tempo' do dia (Foto: Bruno Willemon/GloboEsporte.com)Carteira começa o 'primeiro tempo' do dia (Foto: Bruno Willemon/GloboEsporte.com)
 
Neste sábado (25) é comemorado o Dia do Carteiro, profissão que Elisângela exerce há seis anos, bem menos que o tempo de futebol, que como ela mesmo diz é praticado desde a infância. Assim como a realidade de muitos clubes do futebol masculino roraimense, a volante do São Raimundo-RR precisa trabalhar em outra área para garantir o próprio sustento e usa o futebol como fonte de prazer.

A conciliação entre trabalho e 'lazer' é de causar inveja a muitos triatletas. A carteira-jogadora acorda diariamente às 6h da manhã, dá uma corrida de 40 minutos e exerce o trabalho de entrega de correspondências das 8h30 às 18h. Com a bicicleta, companheira de trabalho, ela convive diariamente com casas que não têm caixinha para receber os papéis, sol escaldante de Boa Vista (que chega a fazer 35°) e encara de frente algo mais assustador do que as craques dos gramados, os cães ferozes, que são historicamente o grande pesadelo dos carteiros.

Durante o dia Elisângela é craque ao driblar os cachorros (Foto: Bruno Willemon/GloboEsporte.com)Durante o dia Elisângela é craque ao driblar os cachorros (Foto: Bruno Willemon/GloboEsporte.com)

A rotina de trabalho não cansa e nem desanima Elisângela, que chega todos os dias para treinar no campo do São Raimundo-RR com uma hora de atraso das atividades. Quando ela encontra as companheiras do Mundão, como é conhecido o clube roraimense, faz questão de participar do restante do trabalho físico, mesmo que já tenha 'corrido' mais que todas as companheiras durante o dia. Após o treinamento físico tem o técnico e tático. Ela alega não sentir cansaço.

Treino no São Raimundo-RR é o último desafio do dia (Foto: Bruno Willemon/GloboEsporte.com)Treino no São Raimundo-RR é o último desafio do dia (Foto: Vanessa Lima/GloboEsporte.com)

- Os meus trabalhos diários (nos Correios) me ajudam 100% na minha atividade como jogadora. Quando saio do trabalho tomo um banho, recarrego as energias e estou pronta para jogar futebol. Encaro minhas atividades na bola como lazer. Não ganho salário como jogadora, ao contrário, faço é gastar. Mas tudo é feito com prazer. Meu marido (também carteiro) é que ás vezes é o patrocinador da minha vida no futebol - brinca a volante.

Sobra disposição após um dia de trabalho (Foto: Bruno Willemon/GloboEsporte.com)Sobra disposição após um dia de trabalho (Foto: Vanessa Lima/GloboEsporte.com)
 
O São Raimundo-RR joga pela Copa do Brasil no dia 29 de janeiro, contra o Esporte Clube Viana (MA). A partida será no estado maranhense.

No tempo vago, uma bola menor

A incansável rotina de entrega de cartas e futebol não para por aí. Elisângela concilia, sempre que possível, as atividades de costume com outra paixão, o futsal. A carteira gosta mesmo de jogar na defesa e no futsal atua como fixa. Entre as conquistas com a bola pequena, uma foi o troféu que ganhou em Belo Horizonte (MG) no ano de 2011, quando a agência da fixa ficou em quatro lugar no Campeonato Nacional de Futsal Feminino dos Correios.

Além de representar os Correios de Roraima em competições nacionais, a fixa joga no time chamado Atlético Valência. Não é o famoso clube da Espanha, no qual jogaram Romário, Viola, Lopes (argentino), entre outros. Ela atua no Valência da Federação Roraimense de Futsal (FRFS). Apesar da atuação com a bola grande e pequena, ela não esconde a preferência quando tem que fazer uma escolha.

- Quando uma partida de futebol e futsal caem no mesmo dia, prefiro jogar o futebol mesmo. Não só pela preferência, mas pela proximidade do jogo da Copa do Brasil contra o Viana. Mas quando os jogos coincidem, geralmente os treinadores do futsal liberam as meninas - conta a volante, fixa e carteira.

Troféu é uma das recompensas do esforço e paixão pela bola (Foto: Bruno Willemon/GloboEsporte.com)Troféu é uma das recompensas do esforço e paixão pela bola (Foto: Bruno Willemon/GloboEsporte.com)

Apesar da felicidade nos olhos de Elisângela ao contar a alegria por conciliar trabalho, futebol e futsal, ela faz um apelo. A carteira sente a necessidade de investimento em esporte para os funcionários de todas as empresas, inclusive nos Correios.

- Já temos um trabalho cansativo diário levando correspondências para os lugares e a prática de esporte é um estímulo para os funcionários desempenharem o trabalho da forma mais prazerosa possível. Quando participamos de competições nacionais voltamos muito mais motivadas. Então a prática esportiva pode ser considerada como um investimento - diz.

A carteira é tão apaixonada por esporte que adia o sonho de ser mãe. Com 30 anos, ela pretende ter filhos somente a partir dos 34. Mas a atleta encara a maternidade como apenas uma pausa nos esportes: 'Não pretendo parar de jogar futebol', fala.

Carteira esbanja alegria (Foto: Bruno Willemon/GloboEsporte.com)Carteira e jogadora, Elisângela esbanja alegria (Foto: Bruno Willemon/GloboEsporte.com)

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