Elisângela se prepara para a entrega de correspondências (Foto: Bruno Willemon/GloboEsporte.com)
Dribles durante o dia em cães ferozes e à noite o inverso:
muralha para conter dribles de craques do meio de campo e ataque. Esta é a
rotina de Elisângela Gomes da Costa, 30, de Boa Vista (RR), que divide
diariamente o trabalho como carteira e o prazer em jogar futebol como
'profissional', ainda que não seja remunerada para jogar bola.
Carteira começa o 'primeiro tempo' do dia (Foto: Bruno Willemon/GloboEsporte.com)
Neste sábado (25) é comemorado o Dia do Carteiro, profissão
que Elisângela exerce há seis anos, bem menos que o tempo de futebol, que como
ela mesmo diz é praticado desde a infância. Assim como a realidade de muitos
clubes do futebol masculino roraimense, a volante do São Raimundo-RR precisa
trabalhar em outra área para garantir o próprio sustento e usa o futebol como fonte
de prazer.
A conciliação entre trabalho e 'lazer' é de
causar inveja a muitos triatletas. A carteira-jogadora acorda diariamente às
6h da manhã, dá uma corrida de 40 minutos e exerce o trabalho de entrega de
correspondências das 8h30 às 18h. Com a bicicleta, companheira de trabalho, ela
convive diariamente com casas que não têm caixinha para receber os papéis, sol
escaldante de Boa Vista (que chega a fazer 35°) e encara de frente algo mais
assustador do que as craques dos gramados, os cães ferozes, que são
historicamente o grande pesadelo dos carteiros.
Durante o dia Elisângela é craque ao driblar os cachorros (Foto: Bruno Willemon/GloboEsporte.com)
A rotina de trabalho não cansa e nem desanima Elisângela,
que chega todos os dias para treinar no campo do São Raimundo-RR com uma hora
de atraso das atividades. Quando ela encontra as companheiras do Mundão, como é
conhecido o clube roraimense, faz questão de participar do restante do trabalho
físico, mesmo que já tenha 'corrido' mais que todas as companheiras durante o
dia. Após o treinamento físico tem o técnico e tático. Ela alega não sentir
cansaço.
Treino no São Raimundo-RR é o último desafio do dia (Foto: Vanessa Lima/GloboEsporte.com)
- Os meus trabalhos diários (nos Correios) me ajudam 100% na
minha atividade como jogadora. Quando saio do trabalho tomo um banho, recarrego
as energias e estou pronta para jogar futebol. Encaro minhas atividades na bola
como lazer. Não ganho salário como jogadora, ao contrário, faço é gastar. Mas
tudo é feito com prazer. Meu marido (também carteiro) é que ás vezes é o
patrocinador da minha vida no futebol - brinca a volante.
Sobra disposição após um dia de trabalho (Foto: Vanessa Lima/GloboEsporte.com)
O São Raimundo-RR joga pela Copa do Brasil no dia 29 de
janeiro, contra o Esporte Clube Viana (MA). A partida será no estado maranhense.
No tempo vago, uma bola menor
A incansável rotina de entrega de cartas e futebol não para por aí. Elisângela concilia, sempre que possível, as atividades de costume com outra paixão, o futsal. A carteira gosta mesmo de jogar na defesa e no futsal atua como fixa. Entre as conquistas com a bola pequena, uma foi o troféu que ganhou em Belo Horizonte (MG) no ano de 2011, quando a agência da fixa ficou em quatro lugar no Campeonato Nacional de Futsal Feminino dos Correios.
Além de representar os Correios de Roraima em competições
nacionais, a fixa joga no time chamado Atlético Valência. Não é o famoso clube
da Espanha, no qual jogaram Romário, Viola, Lopes (argentino), entre outros. Ela
atua no Valência da Federação Roraimense de Futsal (FRFS). Apesar da atuação
com a bola grande e pequena, ela não esconde a preferência quando tem que fazer
uma escolha.
- Quando uma partida de futebol e futsal caem no mesmo dia,
prefiro jogar o futebol mesmo. Não só pela preferência, mas pela proximidade do
jogo da Copa do Brasil contra o Viana. Mas quando os jogos coincidem,
geralmente os treinadores do futsal liberam as meninas - conta a volante, fixa
e carteira.
Troféu é uma das recompensas do esforço e paixão pela bola (Foto: Bruno Willemon/GloboEsporte.com)
Apesar da felicidade nos olhos de Elisângela ao contar a
alegria por conciliar trabalho, futebol e futsal, ela faz um apelo. A carteira
sente a necessidade de investimento em esporte para os funcionários de todas as
empresas, inclusive nos Correios.
- Já temos um trabalho cansativo diário levando
correspondências para os lugares e a prática de esporte é um estímulo para os
funcionários desempenharem o trabalho da forma mais prazerosa possível. Quando
participamos de competições nacionais voltamos muito mais motivadas. Então a
prática esportiva pode ser considerada como um investimento - diz.
A carteira é tão apaixonada por esporte que adia o sonho de
ser mãe. Com 30 anos, ela pretende ter filhos somente a partir dos 34. Mas a
atleta encara a maternidade como apenas uma pausa nos esportes: 'Não pretendo
parar de jogar futebol', fala.
Carteira e jogadora, Elisângela esbanja alegria (Foto: Bruno Willemon/GloboEsporte.com)
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